Podemos suspeitar… Dizem alguns. Outros… Afirmam que está em curso a grande revolução, agora liderada pelos EUA…

Algo é certo: Tudo (ou quase tudo) vai mudar.

Será do nosso interesse?

E, será possível reverter, daqui a quatro ou oito anos, recuperando o que é de interesse vital da Europa e global?

Há leis que têm vindo a ser assinadas por Donald Trump em frente a câmaras de televisão, e, ou divulgadas pela sua conta pessoal do Twitter (não a conta do Presidente dos EUA), mas, a verdade é que, a partir de agora, ninguém sabe quais serão, de facto, as inclinações, que, efectivamente, vai sofrer a política mundial.

E, muito menos quais serão as suas consequências, daqui a uns anos.

Em Portugal e na Europa.

Por isso, aproveitemos este momento para dar testemunho a partir deste ponto de observação em Lisboa.

Um testemunho, um ponto de vista de alguém que durante a sua juventude e adolescência viveu vários anos nos Estados Unidos. De alguém que, como adulto, estudou nos Estados Unidos, que ali aprendeu muito em diversas Universidades, de alguém que (após Portugal),  considera os Estados Unidos o seu País de eleição,  Talvez mesmo uma sua segunda Pátria.

De alguém que sabe que, juntamente com Abraham Lincoln e Franklin Delano Roosevelt, Barack Obama deixou a sua pégada política na presidência dos EUA.

Ao primeiro, deve-se a abolição do esclavagismo, a vitória dos unionistas sobre os estados do sul, e o discurso de Gettysburg, em que proclama os ideais do republicanismo, da igualdade, da liberdade e da democracia. Ao segundo, o New Deal, a política que retirou os americanos da Grande Depressão, de 1929, através de maciços investimentos públicos, e a decisão de entrar na II Guerra Mundial ao lado dos soviéticos, ingleses e da resistência francesa, e cujo contributo foi particularmente relevante para a derrota do nacional-socialismo. Um contributo que se mostrou depois relevante para o desenvolvimento e estabilização dos Estados Unidos, no plano político, financeiro, económico e da segurança e defesa.

A NATO foi um pilar desta política norte-americana.

Ao terceiro, Barack H. Obama (afro-americano), por ter sucedido a George W. Bush e precedido Donald Trump, quase se pode considerar, também,  um epifenómeno político.

No seu portfólio político não faltam, acontecimentos e medidas marcantes: diminuição do desemprego, relançamento da  economia, incluindo a indústria automóvel, envolvimento nas questões climáticas, retirada do exército norte-americano do Iraque, restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba, o lançamento de um sistema de saúde de cobertura universal, o Obamacare. E tão importante como as outras, não ter envolvido os EUA em nenhum conflito armado.

Hoje, o seu sucessor, Donald Trump, inverte o caminho.

Aparentando não considerar os interesses dos EUA (e nem dos seus cidadãos, apesar de ter recebido 60 milhões de votos) nas frentes avançadas, comercial, da economia, finança e da segurança e defesa.

Dos Estados Unidos e de todos nós.

«America Great», foi, é, o lema de Donald Trump.

Como o de Nicholas Sarkozy na sua última e derradeira campanha eleitoral: «France Forte».

Onde está hoje a França («forte») que Sarkozy afirmava sonhar na liderança da Europa? Para onde caminha hoje essa mesma Europa?

Apesar de Donald Trump negar esta evidência, a economia, segurança e defesa dos EUA dependem  também do bem-estar e prosperidade da Europa – Hoje, União Europeia, com toas as suas (conhecidas) fragilidades e vulnerabilidades.

Mas, Donald Trump  insiste em continuar a cortar laços com aliados tradicionais dos Estados Unidos da América.

Como fez neste dia 1 de Fevereiro de 2017, através de um telefonema, pouco diplomático, que manteve como primeiro ministro da Austrália ( País aliado tradicional dos EUA). Trump desligou abruptamente o telefone, no decurso de uma conversa que deveria ter demorado uma hora e que foi interrompida após 25 minutos. Apenas porque o primeiro-ministro australiano manifestou algumas discordâncias relativamente ao que lhe afirmava o actual Presidente dos Estados Unidos.

Quando se seguirá a Grã-Bretanha, para atingir a União Europeia? E o que acontecerá aos interesses das grandes empresas multinacionais lideradas em Nova Iorque ou outra cidade norte-americana, mas que têm sede em Bruxelas, Londres,  ou Madrid? Será assim que os grandes investidores norte-americanos redireccionam os seus capitais para os Estados Unidos? Ou que retiram os seus investimentos da região Ásia/Pacífico (onde um acordo comercial desenhado cirurgicamente para excluir a China foi já «rasgado» por Trump)?

A multidão na posse de Obama

Pairarão para sempre as imagens da imensa manifestação popular na noite da primeira tomada de posse e Obama.

Não nos iremos esquecer tão depressa dos seus discursos, nem da sua capacidade oratória, nem do seu estilo de liderança, nem da sua sobriedade, nem do seu humor, nem da informalidade com que lidava com quase todas as situações, nem do espírito de serviço público que imprimiu à sua presidência, nem de sua mulher, Michelle, que assumiu como missão a promoção de estilos de vida saudável.

Agora que não vai ser tão grande frequentador de Pennsilvanya Avenue (localização da Casa Branca), o que hoje interessa sublinhar é a personalidade deste Presidente Barack Hussein Obama que certa vez nos disse que se não estivermos dispostos a pagar um preço pelos nossos valores, se não estivermos dispostos a fazer alguns sacrifícios para os realizar, então deveríamos  perguntar-nos se realmente acreditamos neles.

Que resposta, que sacrifícios estarão portugueses e europeus dispostos a aceitar, neste momento de deriva, inclusivé (e principalmente) para a sua Economia, Segurança e Defesa, assim como para a manutenção de todo o sistema do seu actual bem-estar?

1 de fevereiro de 2017

Eduardo Mascarenhas
Vogal da Direcção – Coordenador para a área da Comunicação